domingo, 30 de novembro de 2014

"We are Far Away Within the View" - Visão e Verbo em Elizabeth Bishop (Prof. Diana Almeida)

Olá,
o seminário da próxima Quinta-feira, dia 4, vai ser extraordinário em relação ao percurso da sequência poética, visto que a Prof. Diana Almeida vem antes falar de um tema de que há muito se ocupa que são as relações inter-artes no feminino (óptimo para quem está a frequentar o seminário inter-artes em paralelo!).
Assim, segue a sua proposta, com links para os poemas que não estão na antologia:



E. Bishop. Cabin with Porthole. Aguarela e guache. S/d.
 Leiam “Large Bad Picture”, “The Monument” (de North and South, 1946) e Poem” (de Geography III (1976)
 
Leiam “Large Bad Picture”, “The Monument” e “Poem”.
Reflitam sobre o caráter auto-reflexivo dos poemas. Que estratégias usam estes textos para descrever os processos de criação artística? (Investiguem os conceitos de ekphrasis  e de dialogismo.) Pode-se estabelecer algum paralelismo entre os três poemas? Como definir a “arte poética” aqui apresentada por Elizabeth Bishop?
(alguma) Bibliografia
Bishop, Elizabeth. Poems, Prose, and Letters. Nova Iorque: Library of America, 2008.
“Large Bad Picture”, North and South (1946), 8-9.
“The Monument”, North and South, 18-20.
“Poem”, Geography III (1976), 164-166.
---. Exchanging Hats: Paintings. Nova Iorque: Farrar, Strauss and Giroux, 1996.
Vamos ler algumas aguarelas, guaches, desenhos e objetos realizados por Bishop em diálogo com obras dos seguintes artistas visuais — Mary Cassatt, Matisse, Marcel Duchamp, Francis Picabia, Eudora Welty, Joseph Cornell, Hergé, Edward Hopper e Alexander Calder.

Sobre a sequência The Cold Spring, pede-se que dêm especial atenção ao poema inicial "A Cold Spring", "An Invitation to Miss Marianne Moore", "Arrival at Santos" e "The Cold Spring".
Pede-se ainda que não esqueçam de começar a ler a próxima obra, que não está na antologia (espera-se que a tenham adquirido), Paterson, de William Carlos Williams.
 Mas neste post é para responderem ao repto da Professora Diana Almeida. Façam favor!
 



5 comentários:

  1. Em "Large Bad Picture", o sujeito poético começa por apresentar o great-uncle como autor de um quadro, que descreve a seguir. Tal como muitos dos poemas de Bishop (presentes na sequência da Antologia), o sujeito poético descreve a paisagem e invoca imagens de "small black ships", "black birds", entre outras. No caso deste poema, penso que o sujeito poético utiliza a descrição de uma paisagem e dos seus vários elementos para remeter para a criação de um quadro (foco na pintura).

    Em "The Monument", o sujeito poético dirige-se a um "you" que podemos entender como o próprio leitor. Neste poema, há uma descrição de um monumento que curiosamente é feito de madeira porque "Wood holds together better/ than sea or cloud or and could by itself,/
    much better than real sea or sand or cloud." Ao contrário do poema anterior, apesar de descrever um edificio, ou seja um local físico, "The Monument" menciona mais formas de expressão, todas supostamente contidas no edificio, "It is the beginning of a painting,/ a piece of sculpture, or poem, or monument, /and all of wood. Watch it closely."

    Por último em "Poem" voltamos a regressar à pintura. Desta vez temos um "little painting" que, penso eu, mostra uma imagem ou paisagem de Nova Scotia. O sujeito poético usa pela primeira vez a primeira pessoa ao se aperceber que reconhece o local e a partir aí temos acesso às suas memórias visuais.

    Em conclusão, penso que os três poemas se relacionam. Primeiro não só pela atenção aos pormenores mais pequenos, como a menção a vários animais, ao 'country-side' e ao mar, mas também na presença e importância dada à madeira. De certa forma, o sujeito poético sugere o poder da Natureza ou como ela está sempre presente. Por outro lado, os poemas parecem relacionar-se pelas relações pessoais que estabelecem. Há um great-uncle que aparece em "Large Bad Picture" e que em "Poem" é tio do sujeito poético mas great-uncle do 'you' a que o sujeito se dirige. Os poemas parecem sugerir ligações cada vez mais estreitas, uma vez que passamos de algo mais descritivo e pouco pessoal ("Large Bad Picture"), para um sujeito poético que se dirige directamente a um "you" ("The Monument") e que acaba por estabelecer uma ligação de 'visao' com o seu tio ("Poem") ao afirmar que " I never knew him. We both knew this place,/ apparently, /(...) Our visions coincided"

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  2. PART I

    When comparing the three poems, the most obvious similarity that immediately struck me was the fact that all of the poems describe a different work of art (i.e. two paintings and a monument).
    In all three poems the poetic subject begins by describing the respective work of art, he/she sees in front of her. Slowly, we are able to build the images before our mind’s eye. The information we are provided, however, transcends common descriptions of a work of art by involving the senses.
    The poetic subject thus brings life to the poems and enhances them by making us feel, smell, hear, and see the artworks right in front of us. The vivid descriptions of these previous works amplify and expand the meaning of each one (“ekphrasis”).

    In “Large Bad Picture” e.g. our senses are widened by the sounds the “black birds” make, which are described as “crying, crying,/ the only sound there is.” In turn, the blackbirds themselves are not simply described, but actually transferred into the poem in form of the letter “n.” Just like in Cummings’ literary sound paintings, in a way, an element of the painting becomes present in the poem; the typewriter becomes the poet’s pencil.
    By using the progressive form and repetitions, the poetic subject is also able to evoke a sense of movement in the otherwise motionless painting. This is best seen in the following lines: “the small red sun goes rolling, rolling,/ round and round and round at the same height.”

    “The Monument” immediately starts with an appeal to the senses, as the reader is asked if he/she can see the monument. The inclusion of fragments of dialogue further involves us into the moment of observing the work of art. Towards the end, the monument is given human characteristics; it is indeed described as “having life, and wishing;/ wanting to be a monument.” The object of description hence is given an independent existence and an aura of willfulness.

    The painting in “Poem” on the other hand is first introduced to us with the help of a comparison (as means of visualization) to a widely known object, namely “an old-style dollar bill.” In this poem as well, the senses will be stimulated, such as in the lines, “The air is fresh and cold; cold early spring/ clear as gray glass.”

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  3. PART II

    These descriptions are, however, not fluent ones, but they are interrupted by breaks of several types. Just as in movies, when a character turns towards the camera and addresses the viewer, here as well, these interruptions break the illusion of a successive narration and make us aware of the poems self-reflexive being.

    One of the most striking ways to break the illusion is the way in which the poetic subject discloses her/his own thought process to the reader. Instead of simply describing what she/he observes, the poetic subject goes back in her/his thought process, corrects her/himself and even questions her/his own judgment and capacities: “It is of wood/ built somewhat like a box. No. Built/ like several boxes” – or - “a thin church steeple/ -that gray-blue wisp-or is it?”

    Then again, the above-mentioned fragments out of a dialogue as well make us jump right of the continuous description of the artworks.
    Also, direct references to the different arts and the way an artwork is created are made. Consequently, once again the self-reflexivity of the poem is pushed even further:
    - “a great-uncle painted a big picture” (which will then be described in “Large Bad Picture”)
    - “are scribbled hundreds of fine black birds” (“Large Bad Picture”)
    - “It is the beginning of a painting,/ a piece of sculpture, or poem, or monument,/ and all of wood.” (“The Monument”)
    -“two brushstrokes each” (“Poem”)

    In the end, the artwork does not only gain human characteristics and a will of its own, a certain blurring between life and art takes place: “art “copying from life” and life itself,/ life and the memory of it so compressed/ they’ve turned into each other. Which is which?”
    Just as the poem combines different situations, (be it the direct observation of an artwork, own, private thoughts about it, or the opinion of an outsider) in the end art itself looses its strict boundaries and becomes a part of life by adapting new qualities. Thus, the works of art transfer us into a parallel universe, in which we can create our own rules. At the same time, they are as well able to build a bridge to the original artists themselves, such as to the “great uncle” of the poetic voice (“dialogism”).

    David Klein Martins

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  4. No poema “Large Bad Picture” é imediatamente introduzida a ideia da representação de um quadro através do título e do verso “a great-uncle painted a big picture”. As estrofes que se seguem consistem na descrição desse quadro, o que fica reforçado pelo facto do sujeito poético insistir em descrever a paisagem captada como algo parado no tempo: “still sky”, “motionless” e “perpetual sunset”. Com estas pistas torna-se evidente que o poema está a trabalhar com “ekphrasis”, uma vez que a descrição detalhada e a utilização de muitos adjectivos cria um relato gráfico de uma obra de arte possivelmente imaginária. O sujeito poético serve-se do poder das palavras para desenvolver imagens que também podem ser contempladas, como parece querer insinuar no final do poema.

    No poema “The Monument” continuamos perante uma sujeito poético que demonstra grandes capacidades de retórica, novamente com a descrição detalhada de algo que observa, porém aqui o discurso tem características um pouco diferentes, parece aproximar-se bastante de um discurso oral: “Now can you see the monument? It is of wood / built somewhat like a box. No.” Esta ideia é reforçada pela introdução de um segundo orador que comunica com o sujeito poético, um mecanismo que vem evidenciar duas perspectivas em relação à obra de arte aqui discutida. A ligação com outras formas de arte não é tão rapidamente introduzida neste poema como em “Large Bad Picture”, no entanto, aos poucos, vão surgindo indicações de que aquilo que o sujeito poético observa não é uma paisagem real, mas sim uma obra de arte, uma pintura ou escultura: “The monument is one-third set against / a sea; two-thirds against a sky.” Neste poema, o sujeito poético vai mais longe que descrever uma obra de arte, reflecte sobre a mesma, que vê como algo que deve superar as expectativas e como algo que pode ter várias interpretações, o que fica notável com a utilização de palavras como “may” e “might”. No final do poema descobrimos que o monumento representa qualquer tipo de forma de arte e de como estas precisam de ser observadas para ganharem vida, por isso, o sujeito poético termina o poema com o pedido “Watch it closely.”

    “Poem” continua na linha de um discurso que aumenta a ilusão de um sujeito poético que observa e descreve naquele instante uma obra de arte. Na primeira estrofe reflecte sobre a falta de importância dada à arte, o que contrasta com a estrofe seguinte onde descreve com muito detalhe a pintura em questão. Neste poema há uma relação ainda mais próxima com a pintura do que nos outros dois, uma vez que o sujeito poético refere vários termos directamente ligados à pintura como “brushstrokes” e “fresh-squiggled from the tube”. Esta relação torna-se ainda mais intima quando a pintura surge como um mecanismo que desencadeia memórias: “life and the memory of it so compressed / they’ve turned into each other.” O título deste poema indica-nos que os mecanismos usados pela pintura se assemelham aos da poesia, também esta evoca memórias e transmite beleza, isso é notável na capacidade de utilizar o mecanismo “ekphrasis”, ou seja, utilizar palavras para dar vida e reconstituir a existência de uma obra de arte.

    Os três poemas trabalham a relação com outras formas de arte, em particular a pintura, utilizam o poder das palavras para recriar as suas imagens e também eles se tornarem obras de arte observáveis e apreciáveis. A arte poética está directamente ligada ao poder de criação, estes poemas reforçam esta ideia da arte como algo com vida própria, não é apenas algo forjado por alguém, mas algo que potencializa uma experiência em si, através da contemplação, da ligação com memórias e da associação com a natureza e a vida no geral.

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  5. Nos poemas "Large Bad Picture", "The Monument" e "Poem", estamos perante processos de intermedialidade, neste caso entre a poesia, pintura e as artes plásticas. Nos três poemas existe a abordagem do objecto artístico, o que coloca questões sobre a natureza dos dois meios de expressão artística. Isto porque existe uma sobreposição da imagem mental poética sobre a imagem pictórica que é objecto do próprio poema. Estas questões sobre a natureza dos diferentes meios de arte passam pela reflexão sobre processos de criação e sobre o tipo de efeito que determinado meio de expressão artística tem no público. O que é que se acrescenta ou o que, por outro lado, fica de fora, quando o objecto de arte reflecte outro objecto arte de outra natureza? Neste caso, temos dois poemas cujo enfoque são quadros, e um outro, um monumento (ou escultura?). E como pode a palavra poética configurar esses dois tipos de objectos artísticos? É necessário reflectir sobre a natureza do meio linguístico na poesia para perceber de que forma se transforma o objecto de arte enunciado. Ao objecto de arte fundir-se-à uma voz, a do sujeito poético, da qual esse objecto não se pode desfazer. Neste caso, ao objecto artístico é associada uma perspectiva - "apparently they have reached their destination./ It would be hard to say what brought them there,/ commerce or contemplation". Então, a construção da imagem poética do "quadro" e da "instalação" que o leitor faz, está associada à perspectiva do sujeito poético sobre essa imagem. A voz poética pode atribuir juízos de valor aos objectos enunciados, por exemplo, através do uso de adjectivos, como se pode observar logo no nome do poema "Large Bad Picture", ou pela escolha de verbos especificos que podem animar ou associar sensações à própria imagem - "One can hear their crying, crying," ou "the small red sun goes rolling, rolling,". A descrição não é nem pode ser objectiva. No fundo, é a narrativa entre o sujeito poético e o objecto em questão que está a ser dada ao leitor. Em "The Monument", esse diálogo entre sujeito poético e objecto artístico é mais directo. O sujeito poético tenta primeiro descrever o objecto em questão, enquanto essa descrição será progressivamente de cariz mais pessoal - "The monument's an object, yet those decorations,/ carelessly nailed, looking like nothing at all,/ give it away as having life, and wishing;/ wanting to be a monument, to cherish something". O processamento da construção da imagem poética que o leitor vai fazendo depende dessa narrativa gradual entre o sujeito poético e o objecto observado, como foi dito. No caso deste poema, o sujeito demonstra desde o inicio querer incluir directamente o leitor na observação da imagem - "Now can you see the monument?".
    Em "The Monument" é tratada também a questão da natureza análoga entre a arte e a vida, espelhada através da capacidade associativa do espectador, o que por sua vez também reflecte sobre a linguagem poética, também ela composta de associações. Por exemplo, o céu e o mar estão em directa relação e comparação com características do "monument" descrito no poema. Em "Poem", a relação entre o sujeito e a pintura é estabelecida sobretudo através da memória do sujeito. A pintura reconfigura-se pela memória do sujeito poético que a observa, e se a vida é a própria memória do sujeito, então as fronteiras entre arte e vida esbatem-se. Mas estas questões são problematizadas através dos poemas, ou seja, através da linguagem poética, que acaba assim por ser o veículo que explora as relações entre o sujeito, a vida e a arte.

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