segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Fine Clothes to the Jew

Comentem aqui o poema que consideram mais marcante da sequência, e os aspetos que apresenta de integração e / ou desvio da(s) poética(s) modernista(s).


6 comentários:

  1. Escolher apenas um poema marcante da sequência de Langston Hughes é díficil mas, uma vez que tenho de o fazer, escolhi o poema "Ruby Brown" (página 144 da antologia).
    A primeira razão para escolher este poema é o efeito 'choque' que eu senti pessoalmente pelo 'twist' final e tão subtil. Hughes, neste poema e em practicamente todos, dá-nos a verdade nua e crua de uma realidade do seu tempo. No caso de Ruby Brown, temos uma jovem negra de Mayville que trabalha como 'house-maid' ou como uma empregada doméstica. Ruby, como alguém que quer mais da vida, depara-se com duas escolhas que decidirão a sua vida. Uma delas é continuar a trabalhar para uma 'white woman', onde ganha pouco, e a outra é virar-se para a prostituição. A escolha de Ruby é mencionada no fim.
    Em termos de pertencer ou não a uma poética modernista, este poema parece ter características que se inserem e outras que não se inserem.
    Por um lado, temos presença do verso livre o que não é surpreendente devido à ligação de Hughes com a "Jazz Poetry". De facto, grande parte os seus poemas poderiam ser canções.
    O próprio tema do poema é Modernista (já que tudo pode ser tema segunda os Modernistas). Foca-se numa mulher negra numa realidade que Hughes conhecia, logo o poema tem a presença do seu quotidiano e do 'homem comum', neste caso mulher. O poema também tem um certo tom irónico apesar da 'downfall' da personagem central, o sujeito poético parece não ter medo de chocar. Afinal quantas raparigas não terão sido como Ruby Brown?
    No entanto, ao contrário do que Stein defende no seu ensaio, neste poema Hughes segue uma narrativa com principio, meio e fim. O facto de o poema seguir uma certa lógica, não é exactamente Modernista.

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  2. Angel Wings

    Even though Langston Hughes is usually not associated with the modernist and imagist movement, several parallels to the writing of these poetic movements can be found in his poetry.
    His poem “Angel Wings,” first published in 1927 in his poetry collection Fine Clothes to the Jew, serves as a perfect example to highlight the mentioned overlaps.
    When looking at the poem, the first thing to strike one’s eye is its uncommon and highly stylized structure. This immediately brings to mind the works of E. E. Cummings, which are commonly known as visual poetry due to their stark visual arrangements. Taking into consideration that Cummings describes Modernist poetry as a “literary sound painting,” “Angel Wings” perfectly falls into line with his perception of poetry. In fact, when looking at the arrangement of the poem, one almost sees the shape of two angel wings represented in the poems structure (1-5, 11-14 [I hope I am not reading too much into this]). Furthermore, the musical and rhythmic aspect of the idea of literary sound painting is also present in this poem, due to its many repetitions.
    At the same time the guidelines of Ezra Pound’s imagist poetry can also be located in this particular poem. As abovementioned, we are taken into a visual sphere, in which the precise object is used to convey certain emotions and associations. When imagining the white angel wings, we are taken into the realm of purity, religion and divinity. In this Afro-American context, the whiteness of the wings simultaneously points towards a white skin color, which stands in contrast to the wings of the poetic voice that were drug “[i]n the dirty mire” and “[a]ll through the fire.” There is, however, also a certain coldness to the white wings as they are compared to snow.
    In terms of using no superfluous or decorative words, Langston Hughes goes hand in hand with Pounds rejection of redundancy in poetry. Even though Hughes uses several repetitions, only very few adjectives are needed. This plain and sparse language once again underlines the common hardship African American’s had to endure. The use of vernacular language moves the poem to the tradition of oral speech and builds a form of communitarian ethnical belonging. Including the vernacular into his poetry, Hughes creates something “new” and thus fulfills another characteristic of Modernism.
    Furthermore, the poem has no definite succession, but builds up on repetition. Hence, Stein’s idea of a new American poetry without any kind of successive narrative is as well attained.

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  4. “Beale Street Love”

    Basta uma pequena pesquisa para descobrir que Beale Street, no Tennessee, é o local de nascimento dos blues e o coração da cultura afro-americana nos anos 20, década em que este poema foi publicado e que tem esta rua como plano central. Neste poema, tal como em muitos outros em Fine Clothes to the Jew, o cenário nocturno dos bares de blues está ligado ao álcool e à violência e, ainda que “Beale Street Love” trabalhe a temática do amor, fá-lo de maneira inesperada e directamente ligada à brutalidade. Desta forma, como já o tinha demonstrado antes, Langston Hughes manifesta uma vontade de revelar tudo o que está relacionado com uma identidade cultural, até os aspectos negativos.

    A imagem que o sujeito poético pinta do amor neste poema é um grande exemplo de um estilo bem demarcado onde se enfrenta as verdades de forma directa. Trabalha com problemáticas ligadas à raça e aos géneros, de maneira tão arrasadora e em apenas 7 versos simples, mas com as palavras bem escolhidas para criar a imagem pretendida. O amor neste poema é um amor violento contra uma mulher, um grande problema que se mantém até aos dias de hoje, porém o sujeito poético não parece tomar partido e limita-se a relatar um acontecimento. O poema constitui uma metáfora em que o amor é violência e deixa o leitor sem forma de escapar a essa afirmação pela forma como é posta com devastadora franqueza. Por outro lado, esta metáfora pode ser lida de outra maneira, o amor pode ser violento, mas sem agressão física.

    O primeiro verso diz simplesmente “Love”, o que cria um momento de reflexão sobre essa palavra, dando-lhe ênfase. O segundo verso, “Is a brown man’s fist”, além de criar o choque inicial de que afinal o amor não é nada daquilo que o leitor espera, liga o poema directamente à problemática da raça, uma vez que, tendo em conta o contexto, é seguro assumir que este punho pertence a um afro-americano. Neste momento a metáfora começa a ganhar forma e o leitor inicia a associação do amor à violência. Com o terceiro verso, “With hard knuckles”, o sujeito poético prolonga a metáfora e faz evoluir essa associação de ideias. “Crushing the lips” é o que revela o quarto verso, o que, mesmo num poema tão curto, cria no leitor um sentimento de expectativa, porque a impessoalidade desta afirmação não revela a quem pertencem estes lábios. Porém, é interessante notar que esta parte do corpo associada à beleza feminina esteja a ser atacada, o que é ainda mais reforçado pelo verso seguinte: “Blackening the eyes”. Por fim, os versos finais trazem o último choque do poema, “Hit me again, / Says Clorinda”. É, assim, introduzida uma entidade específica, cujas intenções dependem da interpretação da metáfora, será que enfrenta violência real ou quer apenas amor mesmo que seja doloroso?

    “Beale Street Love” é um poema de verso livre e sem estrutura regular, ainda que exista a teoria de que tem propositadamente a forma de um punho. Comparando-o com a visão modernista de Ezra Pound parece ter algumas características em concordância, como o facto de tratar directamente o assunto central do poema e o facto das palavras escritas serem escolhidas a dedo nesse sentido. Além disso, o ritmo parece estar de acordo com a emoção trabalhada, a técnica de Hughes é sincera, a simbologia está construída de forma clara e até mesmo Pound poderia concordar que o verso livre funciona aqui na perfeição. Por outro lado, este poema não parece coincidir tão bem com a visão de Gertrude Stein, uma vez que a sua estruturação tem princípio, meio e fim, criando uma sucessão bastante lógica, como se espera de um poema lírico. E, por fim, a ligação óbvia do poema com os blues e o jazz, tendo Langston Hughes sido um dos grandes iniciadores da “jazz poetry”, coincide com a teoria estabelecida por E. E. Cummings em “The New Art”, onde reflecte sobre a ligação natural entre as várias formas de arte.

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  5. O poema "Railroad Avenue" inicia com a colocação da atmosfera de forma directa e concreta pela atribuição do adjectivo "dark" a "dusk", o que parece respeitar alguns dos princípios mencionados por Ezra Pound na sua poética, tais como o tratamento directo "da coisa", a rejeição de termos abstractos que dificultem a visualização da imagem, e o uso regulado de palavras. Para além destes princípios, o poema apresenta, quase sem excepção, imagens bastante concretas pela sucessiva nomeação de objectos - "A victrola" -, de espaços - "Lights in pool rooms" - e de pessoas - "A passing girl".
    Ezra Pound indica na sua poética que "[the] perfect symbol is the natural object", princípio que pode ser aplicado ao longo de "Railroad Avenue". Por exemplo, o verso "A box-car some train/Has forgotten" pode simbolizar esquecimento, negligência e abandono ou transmitir emoções de desalento, ou ainda uma sensação de desolação, ainda que nos versos não seja senão mencionado o objecto "box-car" e o facto de ter sido deixado ao abandono. O único verso que parece não se incluir nestes princípios, por ser demasiado abstracto, é o seguinte: "Neither truth nor lie". Nele são mencionados dois termos abstractos e sem precedentes no poema que os possam tornar mais específicos no seu contexto, o que, de acordo com Ezra Pound, é um dos aspectos dispensáveis à criação poética.
    Relativamente às qualidades rítmicas e sonoras, Pound diz "Don't make each line stop dead at the end" e "Let the beginning of the next line catch the rise of the rhythm wave". Estes princípios parecem não se encontrar reflectidos nalgumas secções do poema devido à presença de pontos finais e vírgulas no fim de nalguns versos, o que provoca o efeito de quebra de ritmo. Por outro lado, os versos "Laugher/ Suddenly/ Like a taut drum/ Laugher/ Suddenly" aceleram o ritmo do poema pela constituição de versos curtos sucessivos, marcando, pelo contrário, um curso rítmico fluído.

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  6. Um dos poemas mais marcantes, para mim, da sequência é "Homesick Blues". Este poema fala-nos da saudade, porém, é a saudade de um lugar, a terra natal, que é não é possível alcançar. O que torna este poema tão interessante é o jogo que faz entre a saudade de um lugar, o Sul, e o possível meio de lá chegar, o comboio, e como esse elemento tanto serve como esperança, como de angústia. Tudo isto cria um ambiente, na minha opinião, claustrofóbico, onde o movimento é bastante condicionado.
    Na primeira estrofe, o som, ligado ao comboio, é o causador da angústia do sujeito poético. Ao ouvir o comboio, que o poderia levar até casa, a sua dor acentua-se ainda mais, pois a única coisa que faz é lembrá-lo da sua condição. Temos assim o comboio como objecto de libertação e, ao mesmo tempo, de constante lembrança da prisão em que o sujeito poético se encontra, o que lhe provoca dor e angústia.
    Na segunda estrofe há uma tentativa de fuga por parte do sujeito poético. À medida que se aproxima da estação, a tensão aumenta, e a dualidade presente no objecto comboio cresce. O verso "Ma heart was in ma mouth" denota isto. O facto dele ter o coração na boca mostra, por um lado, uma esperança temerosa na libertação, mas, por outro, um reconhecimento dessa impossibilidade. Outro aspecto interessante nesta estrofe, é o destino para onde o sujeito poético deseja ir: o Sul. Conhecida como a zona dos Estados Unidos menos tolerante à comunidade afro-americana, tendo sido contra a abolição da escravatura, é, ainda assim, alvo das saudades do sujeito poético. Encontramos este desejo de partir para o Sul noutros dois poemas. Em "Po' Boy Blues", o sujeito poético lamenta a sua sorte, que tem vindo a diminuir desde que foi para o Norte. Aí o mundo torna-se frio, em contraste com o Sul, onde o Sol brilhava como ouro. Outro poema que fala do Sul como ponto de partida para onde se quer voltar é em "Evil Woman", onde o sujeito poético nos diz que trouxe a sua mulher do Sul, para onde voltará.
    Por fim, na terceira estrofe, retoma-se um tema já abordado no poema "Hard Luck", o riso enquanto escape da dor. A única coisa que impede o sujeito poético de ceder à angústia da saudade é o riso. No entanto, o riso final acentua de maneira bastante pungente a sua mágoa, através da discrepância de emoções.
    Em termos gerais, a sequência poética de Langston Hughes tem momentos onde se aproxima e desvia das poéticas modernistas. Por exemplo, Gertrude Stein defende no seu texto como a poesia Americana deixaria de recorrer à sequencialidade de eventos em princípio, meio e fim. Vemos nesta sequência poética Hughes a inclinar-se contra e a favor de Stein. Na sequência intitulada "Blues", nota-se claramente uma sequência lógica de eventos. O caminhos que os poemas percorrem são bastante lineares, como uma narrativa bem emoldurada. Porém, na sequência intitulada "From the Georgia Roads" os poemas adquirem uma liberdade muito maior, onde podemos ver posto em prática a ausência de sequencialidade de que Stein falava.
    Também encontramos alguma proximidade à poética de Ezra Pound, quando este nos diz que o poeta não deve usar nenhuma palavra supérflua, que o objecto natural é sempre o símbolo mais adequado. Em Hughes isso é evidente. O uso dos objectos como símbolos, muitas vezes banais, como no poema "Brass Spitoons", é uma marca clara desta sequência poética.

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