domingo, 16 de novembro de 2014

Introdução a "Understanding Poetry" de C. Brooks e R. P. Warren

Na caixa de comentários, escolher um argumento / caracterização definidora de poesia com que se discorde e outro com que se discorde. Nem que seja parcialmente!

4 comentários:

  1. No ensaio "Understanding Poetry", uma das primeiras coisas que me chamou a atenção foi a secção "Limitations of Scientific Statement". Nesta secção é afirmado que "The primary advantage of scientific statement is that of absolute precision.". Eu concordo com esta afirmação em específico mas discordo parcialmente do que vem a seguir quando se afirma que "Literature in general-poetry in particular-also represents a specilization of language for the purpose of precision, (...) poetry aims at clarity and precision of statement in these matters." Na minha opinião a linguagem cientifica não é igual à linguagem poética e não considero que toda a poesia seja, no geral, assim tão precisa ou clara, aliás pelo contrário há poemas que podem ser confusos e difíceis de descontruir não só pela linguagem como também pelas ideias expressas ou expressões utilizadas.

    Por outro lado, concordo plenamente com o que se diz na secção "3. Beautiful statement of some high truth" porque a poesia não é um conjunto de versos constituídos apenas por objectos ou palavras que são consideradas bonitas ou que combinam bem. A poesia não é feita apenas disto mas sim "on the kind of use the poet makes of them.", ou seja, todo o efeito que o poema pretende causar depende da forma como o poeta o expressa por palavras, estejam elas bem ou 'mal' combinadas, sejam elas belas ou não.

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  2. É na secção intitulada "Poetry As a Specialization Of Ordinary Speech" que o autor introduz uma temática que eu julgo ser fulcral para se entender o conceito de "poesia" - "It is important to remember that poetry is not a thing separate from ordinary life and that the matters with which poetry deals are matters with which the ordinary person is concerned".

    Aqui está presente, nem que parcialmente, um ponto de vista de dismitificação do poeta. É correcto dizer que a poesia que lemos em Moore não é o mesmo tipo de poesia que lemos com Hughes, no que diz respeito a formalidade, mas ao mesmo tempo é impossível negar que ambos os autores abordam questões do ser humano, vulgo, "comum". É o tratar da poesia como algo que, embora não seja esse o seu principal objectivo, possa ser entendido que coloca o poema (conceito) no panorama dos "mortais". Há uma ruptura com o ideal de inspiração do poeta como alguém cuja capacidade para escrever poesia surge através de musas ou divindades, dando estas mesmas lugar a situações do dia-a-dia. Concordo especialmente com este ponto de vista, achando-o essencial para entender a poesia modernista e algumas das suas implicações.

    Se por um lado concordo com o autor nesse ponto de vista, por outro, discordo completamente quando o mesmo, na secção "Confusion Between Scientific And Poetic Communication" faz o seguinte "bold statement": "The fact that we have just an idea is in itself not enough to make a poem, even when the idea may be a worthy one." Why not? Se como o autor refere no final, a poesia surge como um impulso natural do ser humano, com que fundamentos é que se pode afirmar o que é ou deixa de ser suficiente para escrever um poema? O que é uma ideia? Será uma imagem? ou será mais correcto dizer que é uma convicção? Pode o mero facto de se ter uma ideia estar desprovido de motivações, nem que inconscientes? Ficam as retóricas.

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  3. Um elemento com o qual concordo bastante, enquanto definidor de poesia, ou, pelo menos, de boa poesia, é que a poesia não está separada da vida normal das pessoas normais. A experiência humana, quer do poeta em si, quer de outras pessoas, é o catalisador da poesia. Este argumento está ligado a uma visão filosoficamente materialista do mundo. A experiência real e física antecede sempre o pensamento, e este está sujeito àquilo que apreende do mundo. Neste caso, o pensamento é o poético, e é com essa experiência que a poesia trabalha, usando-a como a encontra ou transformando-a em algo diferente. Mesmo em poemas mais experimentais como o dos modernistas, em que a relação com a vida do dia-a-dia pode ser mais difícil de descortinar, têm sempre como base inevitável algum tipo de experiência real, quer pessoal, quer da sociedade. Um bom exemplo de um poeta que claramente usa este dia-a-dia na sua obra é Walt Whitman. Os seus inúmeros poemas sobre os homens e mulheres por que passa todos os dias, a rotina citadina ou vida no campo, demonstram uma atenção ao que se passa à sua volta.

    Um ponto em que discordo com o autor é quando ele diz que a experiência real será sempre mais intensa do que a que sentimos ao ler um poema. Que o cheiro ou sabor de uma maçã será sempre mais pungente quando é real, do que quando é experienciado através da leitura de um poema. Apesar de ser verdade que a poesia precisa do real para criar, a emoção que se sente ao ler um poema, que é uma imitação do concreto, pode ser maior do que a sentida fisicamente. Nem todas as maçãs que comemos são deliciosas, usando o exemplo da maçã como paradigma das experiências humanas. Se estiver a ler um poema, onde está descrita uma maçã de cor vermelho vivo, caracterizada de forma a apelar aos sentidos físicos e intelectuais, enquanto estou a comer uma maçã insípida e sem sabor, provavelmente sentirei com mais intensidade a maçã irreal. A poesia não joga apenas com os nossos cinco sentidos, mas também com as nossas memórias e emoções, criando assim, por vezes, um quadro mais vivo que a experiência real onde, muitas vezes, apenas os cinco sentidos são despertados.

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  4. Na secção "Pure Realization", Brooks e Warren demonstram a insuficiência de uma leitura poética direccionada apenas para a experienciação de uma emoção genuína que, por sua vez, conduzirá o leitor a uma emoção/sensação equivalente àquela que é vivida pela acção no mundo real. Um dos argumentos utilizados pelos autores para refutarem a experiência emocional instantânea como único impulso à leitura de poesia é a de que a experiência da emoção poética nunca poderá ser tão intensa como a que é sentida pela experiência em si. Eles afirmam: "the taste or the smell of a real apple is always more intense than any poem describing the taste or smell of an apple" (pág. 13).
    Ao contrário do que é expresso nesta afirmação, e que é a diferenciação das emoções pela inserção de um factor de avaliação quantitativo relativo a estas, penso que a diferença não estará tão ligada à menor ou maior intensidade, mas a uma diferença na natureza destas emoções. A diferença necessita antes de ser estabelecida na base de aspectos qualitativos, já que a poesia proporciona outro tipo de emoção, em primeiro lugar, porque existe a necessidade de uma intelectualização das emoções expressas. E mesmo que o poema trate menos da expressão de sensações e mais das perspectivas e ideias do poeta sobre dado assunto ou experiência, como acontece no excerto de "Ode to a Nightingale", através do uso de ferramentas poéticas como a rima, a métrica, simbolismo ou imagética, a leitura poderá envolver sempre uma experiência sensacional ou emocional, mesmo que envolva simultaneamente um esforço intelectual.
    Em suma, a intensidade emocional que se vive pela leitura de poesia, mesmo não activando os sentidos directamente pelo contacto real a dado estímulo palpável, ou mesmo que o cariz do poema não aponte tanto para a expressão de emoções e sensações, pode ser sempre uma experiência emocional igualmente intensa, mesmo arquitectando-se esta envolvência emocional e sensacional de forma mais ideal e menos sensorial.

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