domingo, 14 de dezembro de 2014

Reflexões para esta semana - Charles Olson (1910-1970) e Allen Ginsberg (1926-1997)




- Quais as palavras-chave no tocante a como se "mede" a poesia segundo Charles Olson?

- Como contribuem tropos/figuras de estilo para definir e estruturar cada uma das partes de Howl?

e uma pergunta extra: será Howl uma sequência poética ou um poema longo?

6 comentários:

  1. “Projective Verse” – Charles Olson

    Cinética é uma palavra essencial no ensaio de Olson, ou seja, a energia do poema que é transmitida até ao leitor, uma energia que deve ser constante e constantemente vigiada pelo poeta para que não se afaste do seu propósito inicial, sendo, por isso, uma questão importante na construção de um poema que trabalha com “open verse”. Os objectos tratados dentro do poema têm de ter presença na energia comum, podendo ter as suas próprias tensões ou “their proper confusions.” Charles Olson segue um princípio; “Form is never more than an extension of content”, que levará o poema projectivo a existir, e um processo; “One perception must immediately and directly lead to a further perception”, que funciona como molde para as energias em acção no poema e é, desta forma, um parâmetro a ter em conta na “medição” de um poema.

    Outras palavras importantes a reter do ensaio de Olson são respiração e audição, cujos registos de aquisição têm de estar presente no verso, segundo Olson é isto que o verso projectivo torna claro. Aprofundando mais a questão, conclui que a sílaba é um princípio essencial na composição do discurso e espontaneidade do ouvido do poeta, por isso, o exercício de ouvir a sílaba tem de ser constante, “it is from the union of the mind and the ear that the syllable is born.” E, depois, nasce a linha, que juntamente com a sílaba formam o poema e são elementos importantes a “medir” mesmo no “open verse”. A linha vem da respiração: “only he, the man who writes, can declare, at every moment, the line its metric and its ending”, esta relação entre a respiração do poeta e a composição do poema volta a ser reforçada no final do ensaio, uma vez que Olson considera que o verso projectivo tem de resultar da respiração, de onde vem o drama e todos os actos. É, ainda, interessante referir como o uso da máquina de escrever contribuiu para a indicação da respiração, das pausas, das suspensões das sílabas ou da justaposição de partes de frases, que o poeta quer transmitir e sonorizar sem necessitar de usar a rima ou a métrica.

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  2. “Howl” – Allen Ginsberg

    Na primeira parte de “Howl” é evidente, primeiro que tudo, o uso da anáfora “who”. Esta figura de estilo evidencia o pranto do poema já, de certa forma, anunciado no próprio título. A anáfora e a enumeração de vários tipos de pessoas nesta primeira parte relembra Walt Whitman e a noção do sujeito poético puder conter multidões dentro de si, ainda que “Howl” remeta apenas para uma população fora do “mainstream”. Assim, Allen Ginsberg, servindo-se ainda da metáfora para identificar e definir aqueles que considera os génios da sua geração, delineia a história da “beat generation”, levanta problemas culturais controversos e parece querer transmitir a mensagem de que não há problema em ser-se como se é. Outra figura de estilo interessante presente no poema é a metonímia, por exemplo, em “El” no verso 5, palavra esta que serve para identificar a ferrovia elevada da cidade de Nova Iorque. Esta utilização de uma palavra para transmitir uma ideia torna o discurso de Ginsberg mais pessoal, uma vez que este tipo de discurso só pode ser entendido por aqueles capazes de o descodificar, como se voltará a dar na terceira parte do poema com a palavra “Rockland”, que parece referir-se ao instituto psiquiátrico onde Ginsberg esteve com Carl Solomon, a quem o poema é dedicado.

    Na segunda parte do poema dominam as exclamações e a apóstrofe “Moloch!”, que remete para uma figura divina a quem culturas antigas sacrificavam crianças. Cada ponto de exclamação parece trazer consigo um tom acusatório e a culpa reside nesta figura. Talvez o sujeito poético esteja a expôr a sua frustração em relação àqueles que tendem a desprezar os jovens. Também são exclamados nesta parte do poema uma série de adjectivos de carácter negativo, dando ênfase ao desagrado em relação a Moloch. Este momento do poema funciona como uma espécie de clímax de um discurso revoltoso, que é antecipado e seguido por um discurso mais calmo e estruturado. Além disso, as apóstrofes presentes nas outras partes do poema invocam Carl Solomon, sendo a segunda parte uma quebra nessa invocação, “ah, Carl” no verso 72 e “Carl Solomon!” no início da terceira parte.

    Outras apóstrofes utilizadas nesta última parte vêm delinear a experiência do sujeito poético no instituto psiquiátrico: “O skinny legions”, “O starry-spangled shock” e “O victory”. A terceira parte é marcada pela constante repetição do verso “I’m with you in Rockland”, como um cântico em que enfatiza a sua lealdade para com Carl Solomon. Este verso é intercalado pelo uso da anáfora “where”, um seguimento interessante do “who” da primeira parte, principalmente se tivermos em conta que a segunda parte começa por “what”. O sujeito poético reforça, assim, a sua vontade de descrever a sua geração, aqueles que lutaram contra a maré, a sua vontade de apontar o dedo aos culpados e descrever aquilo que passaram os que eram considerados malucos, que é quase como uma virtude na perspectiva do sujeito poético.

    Posto isto, parece-me que estamos perante um poema longo, porque a linha condutora que une as três partes partilha claramente um tema e uma intenção, logo não parece funcionar da mesma maneira que as sequências poéticas de Emily Dickinson, por exemplo. Se a primeira parte é uma descrição da “beat generation”, daqueles que a formam e dos lugares que os marcaram, a segunda é um eco das suas palavras revoltosas e a terceira uma partilha pessoal com que alguns se poderão identificar.

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  3. Projective Verse de Charles Olson

    O ensaio de Charles Olson é, como diz o próprio, uma tentativa de "show what projective or open verse is" e para que isto seja possível existem termos que são fulcrais. O primeiro é a cinética. Olson dá muita importância à energia do poema que é no fundo a energia que o poeta depositou nele e que depois chega ao leitor. Por outro lado, também se dá importância à forma enquanto "never more than an extension of content" e ao processo que se traduz numa espécie de poesia de percepções ("One perception must immeiately and irectly lead to a further perception.")

    Depois de mencionar os termos mais formais, Olson nomeio aquilo que para mim são quase os aspectos mais "raw" da poesia, e aos quais ele também dá importância para a construção do projective verse. Um destes aspectos é a respiração e o outro a audição. A partir daí, Olson vai nomeando particulas que constituiem tanto a respiração e a audição em termos de composição poética: a sílaba e a linha (que juntas formam o verso) porque a sílaba é audição e a linha a respiração. Após estabelecer estas relações, Olson diz mais uma coisa interessante. Ele refere a máquina de escrever como uma grande vantagem para os poetas do Projective Verse, tanto como um instrumento tem para um músico, porque permite indicar com precisão todas as pausas, as respirações, etc. No fundo, a máquina e escever, permite ao poeta mostrar a sua intenção.

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  4. "Howl" de Allen Ginsberg

    1ª Parte

    -- Em termos visuais e, especialmente após a leitura, é óbvio que a Anáfora e a Enumeração são figuras de estilo dominantes. A primeira parte é constituída pela repetição de "who" seguida pela enumeração e Descrição quer de situações, locais, pessoas que advém do primeiro verso: "the best minds of my generation", neste caso Ginsberg refere-se a pessoas da cultura Beat.
    -- A metonímia também está presente, uma vez que, existe um grande número de palavras que seriam apenas reconhecidas por outras pessoas da cultura Beat ou mesmo só do círculo próximo de Ginsberg.
    -- A aliteração também está presente ao longo dos versos (por ex: "bared" - "brains"; "Howl" - "Hollow" - "High"), assim como a assonância.
    -- Há também a presença da Hipérbole que dá ênfase às situações descritas, muitas delas mencionando drogas, suicidio, entre outras que servem para mostrar o espírito de lamentação e exaustão do "I"/Sujeito Poético, enquanto nomeia muitos dos amigos pessoais de Ginsberg como génios do seu tempo.
    - Apóstrofe quando quase no final se dirige a Carl, quebrando os who's para depois os retomar.

    2ª Parte

    -- Apesar de menos extensa, a segunda parte distingue-se por ter mais predominância em exclamações e invocações a Moloch. Moloch é um Deus, mencionado na Bíblia Hebraíca, conhecido por ter crianças sacrificadas em seu nome ("Children screaming under the stairways"). No contexto de Howl, Moloch é associado à causa para para a destruição das mentes brilhantes, bem como, ao capitalismo, à guerra e à cultura main stream.
    -- Novamente a presença da Descrição ("Moloch whose blood is running n money!)
    -- Personificação. Moloch é descrito como se fosse uma pessoa apesar das descrições serem construídas de forma inesperado e ligando elementos que não se associam entre si ou a pessoas.
    -- Sinonímia, ainda que ligeira nos últimos versos com "Visions! omens! hallucinations! miracles! ecstasies!"

    3ª Parte
    -- Apóstrofe que se liga novamente a Carl Solomon, amigo a quem Ginsberg decida o Howl.
    -- Repetição de "I'm with you in Rockland." Rockland é o nome ficticio para o hospital psiquiátrico onde Ginsberg conheceu Carl. Há um sentimento não só de ligação profunda entre eles, como também de solidariedade e empatia pela experiência que viveram juntos. Pela primeira vez, temos descrições mais pessoais e mais próximas do sofrimento de mentes da geração Beat, que podem ser englobadas nas que são invocadas na primeira parte.

    Footnote
    -- Repetição. Abre com "Holy", palavra que segue toda a secção. É provavelmente a parte mais irónica sendo que as coisas a que o sujeito poético chama "holy" não são verdadeiramente "holy."
    -- Hipérbole novamente devido à presença das exclamações, a única marca de pontuação do poema, que parecem expressar o sentimento final do sujeito poético, como se após toda a loucura e sofrimento (psiquiátrico), "Holy" fosse a salvação, seja ela verdadeira ou forçada ou mesmo a última saída, e ao mesmo tempo a nova maneira de elogiar novamente aquilo que ainda era bom na primeira parte.

    Na minha opinião, "Howl" está construído como um poema longo que parte de um panorama geral num direcção cada vez mais particular. Da beat generation e das suas personalidades, passamos pela revolta e chegamos à situação pessoal de dois amigos que culmina, novamente, com um sujeito exasperado, resultado de toda a loucura e experiências passadas.

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  5. In his essay „Projective Verse,“ Charles Olson engages with the open (or projective) verse, which he defines as the most innate and rooted way to write poetry.

    It is through the use of open verse that a poem achieves to build up a constant energy and simultaneously continually discharge this energy (the poet put into the poem) to the reader. This energetic force is what Olson perceives as the “kinetics” of poetry.
    Further, “the form [of poetry] is never more than an extension of content,” meaning that the form will only serve to emphasize and extend what is being said in the poem.
    Ultimately, “one perception must immediately and directly lead to a further perception.” This points towards the fast movement of perceptions that a poem should contain, which reminded me of a sort of sensory overload.

    Olson then goes on in explaining that the beauty of the syllable has been neglected for centuries due to the use of meter and rime. The syllable, however, should be prioritized as it mirrors the spontaneous forces of the poet. Then again, there is the line, which is just as important as the syllable to Olson. In the end, he associates the syllable to the head and the ear, while the line is a poem’s heart and breath.

    Other concepts he introduces are a) the field, “where all the syllables and all the lines must be managed in their relations to each other” and b) object, that define “what they are, what they are inside a poem, how they got there, and , once there, how they are to be used.” Each and every one of these objects and their separate energies must be respected, even if this might lead to a rupture with the traditions of tenses, grammar, or syntax. In a way, the poet should be guided by his instincts, the typewriter becoming his musical instrument, as means of expression.

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  6. PART I
    In the first section of the poem, we are introduced to “the best minds of my generation destroyed by madness.” The characters appearing here are mostly outcasts and individuals who are incapable to deal with society as such and the suppressing rules it imposes. Hence, many of these people turn towards drugs or become mad in order to escape the unworld [a term I adopted from my beloved e. e. cummings] they are living in.

    In terms of rhetoric devices, the most obvious one is naturally the use of anaphora and repetition throughout the first part of “Howl.” Herewith, the fate of these “best minds” is further emphasized. There is a certain restlessness to these people, highlighted by the repetitions. At the same time, the enumeration (with the help of the repeated “whos”) serves to further specify who belongs to this group of people. It has indeed a very Whitmanian touch to it.
    We also find the use of metaphors in this section, such as the “heavenly connection” on page 2865, alluding to a drug dealer.

    The contrasting realities between drug-induced euphoria and the nightmarish hell these individuals go through after the drugs wear off are stressed through antithetic lines, such as, “with dreams, with drugs, with waking nightmares.”

    Ultimately, we also encounter several changes in terms of linguistic registers. While the poetic subject in one line talks about “scattering the semen freely to whomever/ come who may,” in the next line, we already
    face an allusion to “The Ecstasy of St. Teresa.”

    PART II

    Part II of the poem takes us into an almost apocalyptic world. Looking closer at the poem, we find out that this apocalypse is not an imagined future but the industrialized and capitalistic world Ginsberg lived in. It thus presents the (un)world, “the best minds” from part I have to face on a daily basis, characterized by the Greek God “Moloch.”

    In regards to its rhetoric devices, we again encounter the use of repetitions and anaphors, best visible in the constant use of “Moloch.” Metaphors and personifications are as well to be found in this second part of the poem.

    However, the most interesting change is the change in phrase length and in terms of the use of punctuation. Instead of incredibly long phrases, the poetic subject gives us very short descriptions, which always end with an exclamation point. The exclamation points serve a dramatic function as they add further emphasis to what has been said in each sentence. Towards the end of the second part of the poem, the sentences become words. Herewith, the ultimate level of desperation is reached.

    PART III

    The last part of the poem is dedicated to Ginsberg’s friend Carl Solomon to whom the entire poem is dedicated. It thus, picks out one of the “best minds” of part I and gives us a closer look at this individual person and the reasons why he turned mad.
    What immediately strikes us is the repetition of “I’m with you in Rockland,” which exudes an aura of a religious prayer. The anaphora “where you[/r]” serves the very same purpose.

    All in all, I would read the three parts of “Howl” as a poetic sequence as they do follow one “narrative,” i.e. they are inter-connected in terms of their subject matter. Only when reading the three poems consecutively, their full meaning discloses. Thus, when being taken out of the context of the sequence, they loose value.

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