Tendo como base o poema
"Howl" de Allen Ginsberg, decidi fazer como trabalho criativo um
poema que, de certa forma, recriasse o sentimento do sujeito poético em relação
à sociedade em que se inseria, como um todo, e àquelas pessoas que o rodeavam
todos os dias, que partilhavam com ele a mesma visão da arte e do mundo, a quem
ele chama "the best minds of my generation". Tentei perceber quem
eram as melhores mentes da minha geração, e se também elas estavam a ser
rejeitadas pela sociedade, perseguidas, se haveria, no fundo, algum elo de
ligação entre as mentes de hoje e as da Beat Generation. E percebi que o
problema já não era só com as melhores mentes, mas sim, de forma geral, com
todas as pessoas que sofrem, de uma maneira ou de outra, com os ditames da sociedade
e dos governos. Já não era um punhado de intelectuais a rebelar-se contra a
sociedade, contra a tirania da maioria, mas era a própria maioria quem agora
sofria. Por isso, tentei escrever um poema que abarcasse não as melhores
mentes, mas todas as mentes, e que elevasse qualquer um que sofresse.
Comecei o poema baseando-me na nota
de rodapé de "Howl" onde o sujeito poético diz que tudo é sagrado, à
semelhança de Walt Whitman, e, assim, iniciei com uma versão parodiada da
oração modelo que Jesus ensinou no Sermão do Monte. Aqui o foco é nos humanos
que oram, e não num Deus que ouve a oração. Tentei estruturar o meu poema à
volta desta noção de santidade e de messianismo, nunca associando estes termos
a algo celestial ou puro, mas sim ao banal e terreno, ao dia a dia de todas as
pessoas. Não há experiências transcendentais, mas sim o esforço de ultrapassar
mais um dia, esperando o próximo igual ao anterior.
Um aspecto do poema "Howl"
que quis usar foi a catalogação, mais uma vez inspirada em Whitman, que, penso,
reforça a noção de rotina e repetição. O meu catálogo aproxima-se talvez mais
do de Whitman que do de Ginsberg, por se focar nas camadas mais baixas da
sociedade, e não num grupo fechado de pessoas. Porém, à semelhança de Ginsberg,
a minha catalogação tem um traço mais político, ou de intervenção social mais
directa.
A escolha do título para o meu
poema, "Latido", tem uma razão de valor artístico comparativamente ao
texto em que se baseia. Sendo "Howl" ("Uivo") um poema
bastante melhor que o meu, penso que faz sentido que o meu poema esteja
relacionado ao som de um animal inferior ao lobo, mas da mesma família. Ao
longo do poema vou tentando repercutir o som do latido, assim como a presença
da imagem do cão.
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