domingo, 26 de outubro de 2014

Escolham aqui a poética americana do início do século XX

isto é, aquela, de entre os três autores apresentados - e. e. cummings, Gertrude Stein e Ezra Pound - que mais vos parece justa.
Depois, peço que argumentem até que ponto o estilo do discurso de cada ensaio representa (ou não) a poética defendida.



6 comentários:

  1. „The New Art“ de E. E. Cummings

    No seu ensaio “The New Art” E. E. Cummings defende a Arte Moderna, mostrando que as várias correntes desta nova arte são evoluções paralelas, interligadas e um produto de uma progressão natural.

    Surpreendentemente, estas interligações não se encontram representadas no discurso do ensaio. Dividindo o seu ensaio em diferentes partes enumeradas, a ideia de interligação de certa forma é quebrada. Cada uma destas partes reflete um dos ramos da nova arte, a pintura, a música e a poesia/ literatura.
    Apesar de Cummings em cada parte do seu ensaio nos dar uma explicação de como um ramo de arte é ligado a outro, por fim estas ligações são exemplos muito particulares e únicos, como o uso de uma “chromola” no trabalho sinfónico do compositor Russo Alexander Scriabin que alcança uma união do visual e a música, ou a poesia de Getrude Stein que Cummings caracteriza como pintura sonora literária (literary sound painting). As relações destes exemplos específicos no entanto parecem ser aplicadas de forma generalizada para a arte moderna em geral.
    A dinâmica entre imagem, som e significado poético descrita neste ensaio também não se encontra no estilo usado. A escrita não contém elementos visuais ou imaginários, nem sonoros, mas é caracterizada por um estilo descritivo ou argumentativo.

    No entanto, também temos de ter em conta que este ensaio serviu como discurso de graduação universitário (graduation speech?). Considerando este facto, a estrutura e linguagem fácil e organizada do ensaio reflectem o seu objectivo, facilitando à audiência a sua compreensão.
    Todavia, os futuros poemas de Cummings irão conter todas as dinâmicas prescritas neste ensaio.

    David Klein Martins

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  2. Gertrude Stein foi uma escritora e poeta Americana, considerada uma das principais figuras do Modernismo, tornando-se conhecida pela sua forma de escrever inovadora.
    No primeiro parágrafo de "Narration: Lecture 2", são logo notáveis os traços particulares da escrita de Stein, nomeadamente a ausência quase total de pontuação, a repetição de palavras ou mesmo de sintagmas, o raciocíonio circular, a prolixidade e um certo grau de coloquialidade.
    Pelo desafio da convenção, a escrita de Stein promove aquela qualidade de que ela fala no ensaio, designada por si como "to move in various ways". Esta qualidade é reflectida nos seus textos, por exemplo, através da manipulação sintáctica das frases ou pela inexistência de pontuação, permitindo a existência de mais de uma interpretação.
    A sucessão linear e evidente de acontecimentos na acção é, na perspectiva de Stein, e ao contrário do pensamento dominante, característica dispensável do processo da escrita narrativa. Tudo o que é princípio pode ser fim e vice-versa, já que a realidade é uma sucessão de momentos imediatos não organizados e não lineares, em que o momento é constituído de uma complexidade e simultaneidade de acontecimentos e perspectivas. Daí a importância de "to move in various ways" e do espelhamento dessa qualidade nos seus textos. Para além desta qualidade, a importância do imediatismo presente em cada momento da acção traduz-se na escrita de Stein pela preferência do Gerúndio.
    Uma outra característica na escrita de Stein é o movimento circular do raciocínio. Deste modo, a sua escrita está já a defender o seu ponto de vista sobre a organização narrativa, dispensado aquela em que a sua estruturação se dá pela ordenação em princípio, meio e fim.
    A inexistência de pontuação e a frequente recorrência à repetição, aliteração e rima interna enfatizam a relevância da sonoridade e ritmo para a escritora. A seguinte passagem é um exemplo da existência de métrica e rima no ensaio: "(...) When you know and as you know there is no sucession of what you know since you do know what you know. Any one really anyone can really know that this is so". A métrica e rima aqui presentes, assim como ao longo do ensaio, conferem-lhe algumas características da poesia, esbatendo assim as fronteiras entre este género e prosa. Para além da relevância dessas qualidades, pela repetição constante de algumas palavras, Stein parece comentar intrinsecamente sobre a superioridade da palavra em relação à estrutura ordenada e convencional das frases, desconstruindo novamente as noções dominantes de prosa e poesia.
    Pela destruição do equilíbrio interno das frases, assim como pela importância dada à palavra, Stein defende então as suas ideias sobre o texto narrativo, aplicando-as também na estruturação interna dos seus textos.

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  3. Gostei mais deste ensaio porque comenta vários tipos de arte, desde a pintura e escultura, à música e à literatura. E.e. cummings também menciona a arquitectura e o teatro na sua introdução do ensaio mas acaba por não falar sobre esses campos.
    Especificamente em relação à literatura, e.e. cummings refere três autores diferentes: Amy Lowell, Donald Evans e Gertrude Stein. Pretende, com Lowell, mostrar poesia que vai do normal ao anormal saindo daquilo que é convencional ao invocar imagens grotescas. Através de Amy Lowell, e.e. cummings sugere também que a brutalidade é típica desta “New Art”. Num segundo exemplo de um poema de Lowell, e.e cummings afirma que o desenvolvimento dos seus poemas seria impossível, excepto na literatura ultramoderna.
    Com Donald Evans, há um paralelo entre literatura e o trabalho dos “sound painters” mas é Gertrude Stein que submete o significado das palavras à beleza das palavras em si. Para e.e. cummings, Stein leva ao extremo a lógica do “literary sound painting”. Em “Tender Buttons” as tendências impressionistas tendem a tornar-se absurdas.
    No entanto, o mais interesse no ensaio é a conclusão. Apesar de (especificamente na literatura) uma obra ser lógica, imaginativa, realista e com efeitos sob o espectador, será que é arte? A resposta que e.e cummings dá é que “we do not know.”, ou seja, ele deixa a questão em aberto mas não deixa de defender que o Modernismo tem fundamento porque, apesar de algo poder ser considerado absurdo, não se pode tirar o seu valor enquanto experiência e esforço. A “New Art” surge aos críticos como uma exploração de novos caminhos.
    Na minha opinião, a escrita de e.e. cummings, apesar de neste caso ser maioritariamente descritiva e opinativa, não se associa àquilo que ele transmite porque, em primeiro lugar, divide o ensaio em várias partes, não permitindo fazer a relação de ligação que ele próprio faz entre os vários tipos de arte. Por outro lado termos como brutalidade, escrita metafórica, etc não se aplicam ao seu discurso. Por outras palavras, os adjectivos que ele aplica à literatura desta “New Art” não se aplicam à forma como escreveu o ensaio. A sua escrita é lógica, sim, e também pode ser considerada uma experiência mas é tudo menos absurda, grotesca ou algo que tem como intenção ligar a palavra a uma imagem e/ou som.

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  4. A poética que escolhi, para este exercício, foi a de Gertrude Stein. Uma poética que aponta claramente para o stream of consciousness, Stein cria uma ruptura em termos estilísticos com grande parte da literatura ocidental feita desde a sua génese até então, com a excepção do Antigo Testamento. Começando por se perguntar o que é poesia e o que é prosa, ou melhor o que até então tem sido poesia e prosa, Stein chega à conclusão de que é tudo narrativa. E se é narrativa, está estruturada segundo uma noção de sucessão de eventos. Um texto, poesia ou prosa, é um conjunto de frases que formam parágrafos que têm uma sucessão lógica, ou seja, princípio, meio e fim. E é esta sucessão que dá emoção ao texto. Stein quer, como ela própria diz, escapar a esta lógica de sucessão, a que ela chama de "English writing", para passar a uma "American writing", que não precisa desse sentimento de princípio, meio e fim. Ela usa como exemplo os soldados americanos que, durante a guerra, apenas ficaram de pé, parados. Para Stein, esta imobilidade é muito mais impressionante que o movimento, pois imobilidade implica apenas e só existência, enquanto que movimento necessita de um princípio, meio e fim. E se para Gertrude Stein a aquisição do conhecimento também é algo estático, algo apenas feito naquele momento, e não numa sucessão, faz sentido que a escrita também reflicta este "agora e "já".
    Pode-se dizer que este texto é um excelente exemplo daquilo que defende. Se numa primeira leitura, o texto é-nos apresentado como caótico, confuso e ilógico, logo nos apercebemos que Stein está a pôr em prática a sua teoria poética. O seu texto não é subordinado a uma lógica tradicional de construção de frases, veicula uma imediacidade de pensamento posta em papel. O texto não tem uma sucessão de princípio, meio e fim. Stein vai repetindo os mesmo argumentos, da mesma maneira, ao longo do texto, não havendo, por isso, uma sucessão lógica. Não é a poética com que mais me identifico, mas é sem dúvida a mais interessante do ponto de vista artístico e intelectual.

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  5. Em The New Art de E. E. Cummings, o autor reflecte sobre a evolução da arte na pintura, na música e na literatura, tendo simultaneamente em conta a recepção critica dessas demonstrações artísticas modernas. Cummings mantém o seu discurso bastante imparcial, fugindo, assim, ao acto hipócrita de fazer exactamente aquilo que critica em relação aos críticos contemporâneos de artistas como Matisse. Pelo contrário, o autor demarca de forma bastante lógica a evolução destas formas de arte e de como uma pode influenciar a outra, criando uma cadeia de evolução natural que não deve ser mal recebida, mesmo que algumas demonstrações artísticas causem grande estranheza no seu primeiro impacto. Esta parece-me ser uma maneira muito justa de estudar a arte em todas as suas épocas e formas de expressão.

    “by means of Scribian that we may readily pass from music to literature, through the medium of what has been called ‘sense-transference’, as exemplified by the color music of the ‘Prometheus’.” Neste momento do texto de Cummings fica estabelecida a possível ligação entre as três formas de arte referidas e o autor prossegue com a sua tentativa de comprovar esta ligação, mantendo-se, desta forma, fiel àquilo a que se propussera no início do seu ensaio, ou seja, estabelecer um paralelo entre estas formas de arte.

    Para ilustrar o paralelo que a música e a pintura estabelecem com a literatura serve-se de três poetas: Amy Lowell, Donald Evans e Gertrude Stein. Cummings serve-se ainda de poemas destes autores para exemplificar de que forma estes seguem o rumo natural da arte moderna, mesmo que à primeira vista pareçam trabalhos completamente desconectados de tudo o resto, o que me parece reforçar a sua ligação com a nova arte. Amy Lowell cria imagens bastante vívidas o que estabelece uma relação directa com a pintura, Donald Evans cria figuras que se ligam aos “sound painters” e o mesmo acontece com Gertrude Stein que se serve do significado das palavras para criar beleza inerente às mesmas.

    No final do seu ensaio, quando Cummings coloca a questão “how much of all this is really Art!” responde que não se pode saber, porém mantém a ideia de que todas as experiências de arte têm o seu valor se tiverem em si um esforço sincero, o mesmo parece acontecer com este seu ensaio, onde Cummings experimenta uma teoria e explora possibilidades que talvez não tinham sido pensadas antes.

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